em busca de mim

Thursday, February 24, 2005

talvez seja assim...
talvez todos nós façamos a nossa verdade...
construímos a nossa vida da forma que nos parece fazer mais sentido e justificamo-nos a nós próprios as nossas atitudes da forma mais coerente e aceitável para nós...

a verdade somos nós que a fazemos...
ela não existe por si só, é feita de uma mistura de sentimentos...

há muito de incompreensível na estrutura mental humana...
tremendamente rígidos com os nossos semelhantes, achamo-nos com a autoridade de questionar condutas morais, formas de ser, histórias que não nos pertencem...

necessitamos que todos os que nos rodeiam sejam coerentes... pai, mãe, irmão... família... obrigamo-los a agir coerentemente... forçamos que se justifiquem coerentemente... forçamo-nos a captar a realidade com uma sensatez que lá no fundo sabemos ser contrária à nossa natureza...

"se és dono da verdade, guarda-a!"
felizes os que aceitam o nada como se de tudo se tratasse...

sempre achei que era diferente...
sempre achei que em mim o dobrar do sino bramia o silêncio eterno de todos os vales...

sempre achei que sentia as coisas de outra maneira...
sempre achei que vivia tudo com mais intensidade do que o maior rio que atravessa as minhas veias...

sempre achei...

sempre pensei que era diferente...
diferente como olhava para as coisas...
diferente como olhava para os outros...
diferente como compreendia os outros...

sempre diferente como amava os outros... sempre.

sempre pensei que mais do que existir em mim, existisse um rumo que era o meu... mais do que infinitos que me cruzam e nos quais não me revejo...

nunca...
nunca me achei claro o suficiente para que outros pudessem tentar compreender-me...
nunca pensei em mim como imagem nos outros...
nunca me tive como exemplo no que sou ou faço...

Wednesday, February 23, 2005

apetece-me escrever e não sei bem o quê...
apetece-me sussurar ao ouvido, procurar no escuro a verdade das palavras... e ouvir o que sou, ouvir o que penso... deixar que se espalhe o eco do que sinto...

esta noite, procuro em mim restos de ti...
não os acho, são apenas estados de alma... formas de sentir que brotam do sonho, longe do real e do possível...

Sunday, February 20, 2005

apareceu sem mais nem menos...

como se não fosse preciso avisar, como se sempre tivesse estado ali, como se fosse nosso e de mais ninguém...

conquistou-nos pelo olhar, pelo silêncio, pelo sorriso, pelo cuidado com que expressava cada opinião, pela forma leve que entrava a pouco e pouco no nosso coração...

parecíamo-lo conhecer... gostávamos do mesmo, ríamos do mesmo...

tal e qual como apareceu, um dia partiu... partiu sem dizer para onde ia, e porque partia... partiu com um leve sorriso de quem descobre novas paragens, e levou com ele a luz, o sorriso...
em nós, ficou gravada a lembrança que jamais se apagará...

nunca mais o vi...
talvez um dia o reconheça...

Thursday, February 17, 2005

de pouco me lembro...

Receio mesmo que os poucos flashes que guardamos embarquem numa viagem sem regresso aparente...
talvez porque todos nós sejamos feitos de histórias, de pequenos excertos de livros entreabertos...
É gentil e ao mesmo tempo frágil a decisão que consagramos quando pegamos no nosso livro e o mostramos a outros... uns chamam partilha, outros reconhecem na palavra um eterno medo...

gosto de ler livros dos outros... permite-me conhecer o autor que rege o meu livro... é estranho, mas encontro aí verdades de escritas que não são as minhas e relativizam o que escrevi e o que escrevo...

Leio nas entrelinhas como devoro olhares de desconhecidos e nunca acho o poeta que me dirige, o compositor que me abana os sentidos e os difunde nas palavras que troco e esqueço...

e nasce em mim a vontade de abrir o meu próprio livro que escondo, que é meu... recordo uma estranha premissa: "a minha vida é um livro aberto, com folhas soltas pelo chão..."

o meu livro não o acho, é um livro em branco, vago e fechado guardado junto ao pó do meu coração...

de muito me esqueço...

Monday, February 07, 2005

um nariz vermelho de borracha...

perdi a sensação do que faço...
parei de pensar no que digo e deixei sair de mim alguém que não me conhece. Alguém que parece não me querer conhecer, alguém que talvez me ignore...
perdi a sensação do que escrevo...
parei de querer o alento que alguém de mim me queira ler...
perdi a sensação...

parei... e simplesmente perdi.