em busca de mim

Saturday, February 18, 2006

era uma vez um girassol. era um girassol que vivia no topo duma montanha
um dia conheceu um sol, algo que o fazia acordar feliz... achava-o comum... só um sol no céu, como só um girassol no topo...

um dia descobriu que como ele, existiam milhares... mesmo milhões de girassóis... e pensou então porquê sóis se o "meu" sol é o sol de tantos outros?... vulgarizado, triste, encolhido, e de amarelo esbranquiçado e velho passou dias e dias amuado sem olhar o sol... um jogo infantil que o secava e corroía por dentro...

desde aí entregou-se à noite... fez amizade com a lua, duas pequenas estrelas e até conheceu um cometa famoso... projectos futuros? está a pensar viajar para um planeta diferente... talvez um asteróide B612...

Thursday, February 16, 2006

parecia que era assim que pretendia levar a vida... sempre a correr...
esperava à ponta de um balcão pós-moderno e uma rapariga de uma timidez quase agressiva avisava que iam fechar...
olhava mais uma vez o relógio do telemóvel e fazia o gesto comandado de desbloquear o teclado e ver as horas... era a 6ª vez em menos de 15 minutos... recusava-se a pensar que o atraso podia ser propositado... mas fazia sentido que houvesse no seu interior um risinho de sobreautoestima quando chegava atrasado a mil e um encontros, talvez apercebendo-se que os outros esperariam por ele. era um jogo infantil... como se de algum canto do café quase vazio, espreitasse à coca... estivesse à espera que lhe telefonasse ou mostrasse sinal de preocupação...

às vezes pergunto-me se sei mesmo do que ando à espera...
ou se ainda espero...

Saturday, February 11, 2006

apenas ali podia nascer um hotel imaginado... um lobby cheio de artistas em discussões confusas e intermináveis... a pouco e pouco, as duas horas alcançavam o relógio de parede... lembro-me de os ver entrar e dirigirem-se pelo meio dos encostados de copo na mão ao longo do corredor de bar... um deles sorriu disfarçando o confrangimento dos desculpes e levantar possante da mala. a sua constituição não lhe permitia mais do que aquilo... sustia a respiração, fazia força, soluçava um com licença e voltava a pousar a mala três passos e meio à frente... Vezes houve que nem avançar conseguiu...

seria aquilo o hotel existir? os olhos que se despediram já com um pé no degrau das escadas do fundo pareceram adivinhar ser aquele o lugar procurado... quando dei o último gole, pensei que talvez fosse daqueles pequenos sonhos e do imaginário de viajantes como ele que aquele lugar resistia e não dos artistas gordos, pedantes que mais pareciam armários de corredor estreito...

Monday, February 06, 2006

quando se trocam palavras que não conhecemos tão bem como julgamos, surge um silêncio de medo que nos faz sentir mais pequenos do que a pequenez que nos une...
o medo torna os mortais mais densos, mais complexos e sim... talvez mais reais...

...mostrar o quão frágeis somos é uma partilha difícil... especialmente quando o outro quer a todo o custo exibir caminhos que só a ele pertencem... quando o peregrino ata a saca de pano ao pau de madeira que carrega, lembra-se que os passos dados para poente serão sempre só seus até que o sol deixe de raiar no horizonte. Cada um tem o seu para percorrer...

houvesse palavra que te consolasse! ...partiste sem olhar para trás ciente que a partir dali cada passo era teu...

guardarei a imagem...

falar-te-ei dela quando dela precisares... :)