em busca de mim

Friday, November 26, 2004

Como se secassem, como se silenciassem as entranhas do meu ser... respondo pelo que fui não pelo que sou... Se o fizesse seria diferente... procuro nos transeuntes, traços de ti... Redesenho cada rosto, aperfeiçou-o cada expressão e retenho o sonho, guardo-o... é meu! Não o partilho...

Deixo-me levar pelos sentidos... ouço a conversa dos que se sentam atrás e nasce em mim um interesse absurdo pela vida alheia. Não alheia exactamente... mas alheia a mim...
Como se a história de cada um, as experiências de vida me fascinassem e me fizessem perder o controlo... invadindo a individualidade do orador, os olhares cruzam-se e como se mostrasse a luz da minha perigosa curiosidade, trocam-se sorrisos... e o corar é perceptível por instantes, logo após o desviar comprometedor dos meus sentidos... São esses momentos que anseio... São esses segundos que recordo e guardo de cada um. Com a estranha certeza que se repetiram...

E deixamo-nos levar... falamos do que não temos a certeza, rompemos estatutos, abalamos estruturas, formas de ser... e assim conhecemos aqueles que de longe idolatramos, pelos quais sentimos empatia, seja pela timidez, pela cautela... não sei... talvez pelo simples sorriso...
Avançamos... avançamos não sabemos muito bem para onde... enfim somos nós próprios... mas os enigmas permanecem... Que ser esconde os olhos que focamos na multidão? Somos alimentados por isso, por essa curiosidade que é a vida de desconhecidos... É no fundo isso que fascina, o desconhecimento mútuo e a possibilidade que do outro lado o sentimento seja recíproco.

Thursday, November 25, 2004

Reescrevo-me a cada instante e não releio o que escrevo. Seria perder tempo... seria tentar perceber o incompreensível... seria esgotar o que sou. Adiar esta procura seria negar tudo o que sinto...
Contemplá-lo é sentir que tanto falta por dizer e que não sei a melhor forma de o fazer... hoje não, amanhã. Amanhã poderei saber mais sobre o que sinto... sim, amanhã... hoje sofro o que faço... talvez amanhã ou... mais tarde. Sim, deixarei para mais tarde...

Wednesday, November 24, 2004

Vêm em tons amarelados, vagueiam pela minha mente... não agarro o contexto... sei apenas que fui e sou quem as viveu... sei que vi aquele rosto... sei que senti o que sinto... Acho-me deserto, vazio... E as imagens sucedem, não lhes acho ordem... como se sem sentido, revivesse tudo o que me move, tudo o que me atinge... sei que não é mais do que um sonho... Nele, eu inspiro, eu consigo, eu voo e volto... Sei que alguém me persegue... Em vida, rumo sozinho, solitário em busca não sei bem do quê... será de mim?

Rompo o silêncio. Mostro o que sinto e sou inoportuno... contagiado pelo que sinto, baralhado, desnorteado pelo o que penso... erro e fujo. Desapareço, e procuro... procuro... mas não me acho...

"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Foi oferecido um livro de poesia. Era de Florbela Espanca e na dedicatória lia-se esta frase de Álvaro de Campos. Ainda guardo o livro, escondo-o no armário do quarto atrás de outros livros devorados pelo pó.