em busca de mim

Tuesday, April 29, 2008

"tem que se escrever..." - segreda-me o fantasma do outro lado do espelho...
o fantasma que não ri.
não aprendeu a rir.
a vida não lhe foi justa... não o ensinou...

tem que se escrever, escrever sobre o que desorienta, entristece, abarca, divide... anima e soluça nas horas mansas... alegra e cresce nos sorrisos francos ou apenas desperta nos olhares sem medo, com palavras que por falta de magia, nos fazem regressar ao terreno, ao inerte, ao banal, ao rotineiro e vulgar...

sim, e tem que se ler para se escrever...

Camilo Pessanha morde-me a alma quando me obriga a olhar para o cão agradecido...

"De sob o cômoro quadrangular
Da terra fresca que me há-de inumar,

E depois de já muito ter chovido,
Quando a erva alastrar com o olvido,

Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Há-de ir humilde, atravessando o mar,

Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido."

(Camilo Pessanha)

hoje apetece adormecer e acordar cão...

Monday, April 21, 2008

uma carta sem nexo:

(Cara feiosa emigrante londrina,

homens que acreditam que um homem a cavar um buraco e outro à frente a tapá-lo, aumenta o pib, são homens que não vale a pena amar... valerá a pena ler, enquanto ofegamos a mente com rebuçados de codaína, como quem lê o horóscopo ou enumera o sudoku...

deixa o Keynes - ele não te merece!

espero poder escrever que fizeste a mala, regressaste a lisboa e inscreveste-te em particulares com a manuela... e escusas de fingir... que ela agora vai andar ocupada pa primeira-ministra!

antes Malthus, antes tipos maus e brutos! às vezes ainda aplico o modelo logístico e lembro-me dele, dá-me vómitos! deixemo-nos de parvoíces!

escreve de volta!

o teu sempre estimado inimigo,

toni das panças grandes)

tenho que te escrever mais...

Sunday, April 20, 2008

mascava o tabaco sujo e mal enrolado, enquanto engomava entre bafos as camisas do doutor e as calças da senhora... manejava com a língua o vestígio de cigarro sem filtro que se acumulava na ponta e que exibia por segundos entre os lábios a cada vinco do ferro engulindo-o de novo. era uma mulata esforçada de vestes alegres e mamas grandes mas descaídas. a bunda indisfarçável na saia comprida enaltecia a fertilidade tribal de outros tempos...

fitei-a com a rigidez britânica de monóculo jovial próprio de outra futura idade enquanto abria o frigorífico delicadamente. agarrei uma das bananas e voltei ao quarto em busca de paz de espírito civilizacional...

viva Trotsky, vivam as bananas, viva a exploração!

Tuesday, April 15, 2008

i wish there was no lag between us...
i wish there was no link above us...
i wish sky could not melt people and see them spare apart.

i wish i could fix future...
i could make no harm, and expect none and especially no one...
but light became weaker, invaded what divided us from silence...
and now... hollow darkness made me fly away...
untamed, preserving my own solitude to those who keep losing it...

dawn shadows little certitudes that allowed me to wait...
horizon fiddles short tones, no longer heard in distant fields...

a raven cries in inaudible notes:
"if you're a man, trace your route;
or learn to wait till wind mounts around!"

Saturday, April 12, 2008

Sem
Astro
Unico,
Desespero!
Amor
Domado
Em
Silêncios...

Tuesday, April 01, 2008

mais do que um complemento de engenharia, era algo que me obrigava a compreender melhor o meu semelhante e talvez assim a compreender-me melhor...

aprendi a admirar aqueles que exigem de si, incrivelmente mais que aos restantes, mas que compreendem os defeitos do seu semelhante com a mitral do coração... sim, é um esforço nobre que ergue os pequenos montes de areia do Processo Histórico, e que sombreia outros homens tão capazes, mas talvez de acção mais dispersa...

às vezes, sinto que o homem enquanto animal social se deprime pelo próprio processo de socialização e se esgota enquanto fantoche amador dos rituais vigentes...

é por isso que hoje me sinto ausente, disperso, viciado no modo automático de preencher o tempo e deixar que me consuma...

estranho...