em busca de mim

Tuesday, November 29, 2005

fantasma de nós próprios... já pensaram nisso?
será que é um papel que nos compete... será que somos bons nisso... até nós vivos podemos ser fantasma de nós próprios... assusta-me precisarmos de medos para nos sentirmos protegidos, de fantasmas para nos sentirmos reais...

há algo que sempre me fascinou bastante: os jogos de conversa que interrompemos quando cumprimentamos alguém que seguia o seu caminho sozinho... monólogos deles, monólogos só deles... e entretanto obrigados a voltar ao real... suspendem os fantasmas por instantes com a certeza que são apenas conversas adiadas. é tão estranho!

Friday, November 25, 2005

a distância conserva o que o tempo tende a apagar...
é convincente pensar que a distância e o tempo funcionam como duas molas prestes a descarregar; uma parece ser controlada por nós, a outra jamais lhe faremos frente...

não sei porque tendemos sempre a achar que o tempo faz de nós o que pretende... muda-nos?
será que a distância fortalece-nos, racionaliza os sonhos e robotiza a vivência?

Wednesday, November 23, 2005

queria saber o significado das coisas...
será que o significado das coisas reside nos outros ou em nós próprios?

quando estou contigo, não penso nisso...
quando penso em ti, procuro intenções e desejos... não os acho...

Monday, November 21, 2005

era suposto ser um almoço de netos... acabou por se tornar num almoço de família comum.

é triste pensar que o meu avô deixou de ter paciência para mais do que 15 seg de conversa comigo... e amargamente murmura o seu desagrado: "és uma desilusão...". É um jogo estúpido de toca e foge que nunca aprendi a jogar com ele... engoli em seco para desagrado da minha prima...

no outro canto da mesa, ouvia-se ruídos, juízos de valor que me enfraqueciam... é tão estranho saber que se fala de nós, sem o mínimo de reserva...
(prometemos a nós próprios que deixaremos de contar o que fazemos e com quem andamos)

uma mítica frase dos meus 11 anos voltou à mesa: "um parvo calado passa por esperto..."- era com isto que o meu avô conseguia silêncio nesses tempos...
não sei o que ele sabe ou o que pensa que sabe, não sei o que lhe é contado ou o que ele tira do que não lhe dizem... é triste perceber que fomos influenciados por uma pessoa da qual gostamos mas que não tem mais do que 15 seg para nos ouvir... é revoltante porque ele tem todo o tempo do mundo, mas guarda-o para si...

Wednesday, November 16, 2005

talvez porque os únicos compromissos actuais são de carácter... nada menos mas nada mais...

Tuesday, November 08, 2005

torna-se obscura a importância que gente mais nova do que nós tem na nossa vida... é tão estranho atravessar uma idade em que é difícil olhar para os menos graúdos e prometer-lhes atitude, consciência e bom senso...

como se do alto dos meus atrevidos 80 anos abalasse o mundo, junto-me em sonatas de esquecimento, velhice e quase desaparecimento. a tranquilidade absorve o medo, a calma surge de poucos nadas...
de que serve a mudança nestas paragens? quão egoísta é querer influenciar os que de olhos mansos soletram alegorias mágicas que mais do que vividas foram sonhadas?...

às vezes, pergunto-me se o grande peixe que resiste bem ao fundo de mim saberá contar estas mesmas histórias e terminá-las com o mesmo sorriso...
a pouco e pouco o vivido consome-nos mais do que o por viver, e a caravela carregará de leve as entranhas do que somos a cada sopro de vento.

de que servem estas palavras? para nada... e é possível que pouco delas resulte na cabeça dos que esperam. mas há um traço de egoísmo em tudo isto... por quem já nada tem a perder, as histórias mais do que contadas são ouvidas.

Thursday, November 03, 2005

De gargantas roucas estava o consultório cheio. Agitava uma bandeira de combate à falsa modestia em cada traço de arrogância que sobranceiramente atirava para cima da secretária de uma voz meiga que chamava cada um dos sobreviventes da sala de espera...

talvez tenha sido naquele ambiente e em muitos outros de acidentes, como partir a cabeça ou o queixo, que se tenham delineado muitas carreiras médicas...
o rapaz sentado na beira do sofá, agitava nervosamente as pernas enquanto mirava o televisor ao canto da sala. parecia procurar um lugar mais junto ao ecrã, erguia a cabeça por entre as velhas obesas...

pareceu-me ouvir dizer que ia ser médico quando a mãe o puxou pelo braço em direcção à saída, e lançou-me um olhar de despedida, como surpreendido de ser ele o primeiro a ser chamado.

Wednesday, November 02, 2005

dominado por um lógica do tudo ou nada, os erros sucedem um ao outro e tento-me convencer a deixar de procurar o que anseio há tempos.

busco um propósito na tentativa de olhar para os outros como se os visse pela primeira vez...
há algo de misterioso em tudo isto... parece que certos pedaços de diálogo não são deixados ao acaso, parecem amadurecidos em arrecadações de pensamentos usados, armários estranhos de tios-avós nunca conhecidos...
são flechas que pausam o real e lançam pelas janelas, correntes de ar a sonhos mal agarrados, mal conseguidos ou simplesmente adiados...

e que tem ter 20 anos no meio disto tudo? que tem perceber que muito mudou no rapaz seguro de si que entrou para a faculdade com ambição, trajecto e prosa?

sim, a palavra falta, o discurso atormenta, porque achamos que já nos exprimimos melhor nestes campos do que agora... tenho medo do silêncio, uma arte que os outros parecem dominar e acentuar a cada erro nosso. de que são feitos os sinais do medo? de silêncios acumulados, do nunca dito, do medo do que o outro pensa e não diz, do que o outro sente e não passa...

parece que me vejo, em poucos segundos de aceso desabafo esforçado numa amizade disforme... cheiros a pêssego que me despertam desejos negados de sestas breves pelas nossas tardes...
de que é feito o medo? de que são feitos os sinais do medo?
do que nos liga, do que nos é querido... do que é nosso!

há soluços na escrita corrente, há expressões que gritam re-edição... há frutos que querem apodrecer à sombra...