em busca de mim

Saturday, September 30, 2006

continuei a conversa desiludido comigo próprio e retomei, a conta gotas para meu embaraço a crítica fácil e autista... pelas chupadas de palhinhas cortadas, a caipirinha torceu a ideia e questionei-me por momentos no amigo calado de gatsby... lembrei-me do "...quando criticares alguém, lembra-te que há pessoas que não tiveram as oportunidades que tu tiveste."
hesitei em citar Fitzgerald e vencido pela fluidez do meu silêncio mental, convenci com o sorriso cúmplice de quem sabe que não segues a mesma cartilha... joão de deus com certeza! :P

Monday, September 25, 2006

o escritor que tem medo do papel e que apenas lê porque deixou de acreditar no poder da palavra não é verdadeiramente digno desse nome. é tremendamente fácil ripostar nesta arte sem compreender o sofrimento que o silêncio envolve, muito mais do que a escrita propriamente dita. é um desalento que nasce pela palavra proferida e que se apodera a pouco e pouco e irrompe na escrita corrente e mundana sem que o autor disso se aperceba... e sufoca... sufoca a bondade, o sorriso e faz murchar as vaidades. irrompe sem dar aviso como o choro nocturno duma criança febril... chama-se acordar num primeiro dia de viagens... e são de encantar porque somos embalados a um ritmo frenético, e nisto é urgente desconfiar do rumo.

o papel é seco, àspero, infértil, rotineiro e desalinhado... há uma mancha branca que não deixa ver a tinta das palavras... que dor essa de querer ser cativado de costas para o mundo...

e resulta num exercício ambíguo enumerar as vezes que a oportunidade faz de nós escravos do desejo...

Tuesday, September 12, 2006

abanou o braço mais uma vez... pés esticados, tentando mirar outros olhos pela multidão... era pequenino e precisava ser visto... suspensórios traquinas, t-shirt rota mas branca e pé quase descalço. trazia poeira com ele e escondia o cabelo oleoso e mal lavado dentro do boné, achado no aterro ou roubado no mercado...

e gritava... gritava pela república... aprendera de cor a nova do matutino e repetia-a como se as palavras fossem todas pegadas e perdêssem o nexo à 2ª chamada.

por segundos cruzou o olhar com o meu... éramos da mesma altura e sim, da mesma idade, se ele respirasse um pouco e sacudisse o passado com o boné... e desviou-o convicto que eu era mais um dos rapazes sortudos, sem trabalho, porque a educação me acolhia para futuros não meus...

hoje lembro-me do ardina miúdo sempre que passo pelo mesmo cruzamento... uma centena e meia de anos atinge-me quando ouço as notícias do rádio de um carro vagueante...

Tuesday, September 05, 2006

o gelo nocturno cobria a faixa larga entre as velas acesas de início de setembro... Lisboa lembra um lençol gelado pregado a pontos de luz cintilantes... o lugar junto à janela desaparece e pareço focar lugares mágicos que reconheço a alguns pés de altitude...

por momentos penso nas dezenas de aviões que dão a volta na costa, e encaram a pista depois de se certificarem que o colar de pérolas é a ponte vermelha, acrescentando-lhe realeza e sabor. e da praia de tarde, fingimos seguir esses pássaros que trazem abrigo, mudança e saudade.

pois, Lisboa abraça os que a procuram à noite... permite-lhes o soluço matutino e envolve-os a todos na brisa húmida dos rios celestes...