abanou o braço mais uma vez... pés esticados, tentando mirar outros olhos pela multidão... era pequenino e precisava ser visto... suspensórios traquinas, t-shirt rota mas branca e pé quase descalço. trazia poeira com ele e escondia o cabelo oleoso e mal lavado dentro do boné, achado no aterro ou roubado no mercado...
e gritava... gritava pela república... aprendera de cor a nova do matutino e repetia-a como se as palavras fossem todas pegadas e perdêssem o nexo à 2ª chamada.
por segundos cruzou o olhar com o meu... éramos da mesma altura e sim, da mesma idade, se ele respirasse um pouco e sacudisse o passado com o boné... e desviou-o convicto que eu era mais um dos rapazes sortudos, sem trabalho, porque a educação me acolhia para futuros não meus...
hoje lembro-me do ardina miúdo sempre que passo pelo mesmo cruzamento... uma centena e meia de anos atinge-me quando ouço as notícias do rádio de um carro vagueante...
2 Comments:
Tinha chegado ao país que sempre acreditara ser o meu...
Estranhamente e abraçada a uma noite repleta de alcool, nada me impediu de reparar que naquele bar tinha à minha frente alguém com uma sensibilidade de facto única...
Desde sempre cresci com a palavra "força" dentro de mim... nunca me apresentei ou dei espaço à dor como ela fez comigo!
E ali, com algumas lágrimas a caírem dos olhos desse alguém, vi que afinal o meu boné estava por demais carregado e que não tive força suficiente para o admitir na altura certa! Agora... agora já nada interessa!
Come on...
By
Anonymous, At
6:26 PM
;) vou para sempre lembrar da imagem da miúda loirinha que sorria e lembrava o seu professor... marcou-me porque às vezes sentimo-nos tocados pela beleza dos segundos de vida dos outros! thanks...
By
smiling ghost, At
4:06 AM
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home