em busca de mim

Monday, March 16, 2009

a vida tem muito de processo estocástico. atente-se na aleatoriedade das relações humanos e na contingência dos conhecimentos que travamos. alguns postulam a hipótese de estacionariedade com a altivez e medo de deixarem os seus corpos uivarem no colectivo, outros chamam-lhes processos compostos salivando ménages nas conversas discretas de balneário masculino do ginásio burguês.

sabe a pouco conhecer os meandros das árvores de decisão dos que gostamos: torna-os máquinas, previsivéis e desumaniza o belo que é o íntimo de cada um :)

'tinha de escrever sobre isto, desculpa...'

Tuesday, February 03, 2009

É fatal, irónica e até queirosiana, a forma como Aquilino Ribeiro esboça o provincianismo e a falta de visão de alguns príncipes de Portugal. Há pouco de grandezas e de tamanhas façanhas. Chamar-me-ão velho do restelo, ao estilo camoniano, eufemizando porventura esta contrariedade de existir: de ser português e esperar pelo Encoberto, ou da nossa história disfarçar o encobrimento de fracas figuras...

É engraçado pensar que menos de trinta anos depois de ocupação filipina, já os descendentes do Prior do Crato se rendiam à causa filipina. Mas não se julgue que o fizessem por astúcia ou visão de precisar mudar alguma coisa para que tudo continuasse na mesma, não! Não há visconti que sobreviva ao leopardo lusitano!

Monday, December 15, 2008

um dia tive saudades tuas...

um dia tive saudades tuas e lembrei-me de esperar por ti para um lanche... sem propósito, sem nexo ou aviso... o coração parecia querer ter saudades tuas e foi ficando... ficando a perceber o óbvio ou o desdito.

um dia tive saudades tuas e lembrei-me de te oferecer um cravo... sem propósito, sem nexo ou aviso... o coração parecia querer dar-te a flor que a nossa liberdade consagrou.

um dia tive saudades tuas e lembrei-me de te ler... procurar vestígios teus em prosas ou versos trocados... encher-me do teu passado lírico e de poetas teus.

um dia tive saudades tuas e lembrei-me de te escrever um pedaço de mim... um pedaço sobre o que é ter saudades... um pedaço que é teu...

nesse dia, não tive saudades apenas tuas... nesse dia, tive sim saudades de nós.

Saturday, December 06, 2008

Campanha para Lisboa - Prognóstico:

"O Zé fazia falta... desta vez é a Lena que faz falta!"
"O Zé passou a fazer falta!"
"O Paulinho diz que faz sempre falta!"
"O Pedrinho não faz falta, mas anda por aí!"
"O camarada (seja lá quem ele for) passa a fazer falta"

Monday, December 01, 2008

A minha avó guarda, ainda hoje, religiosamente junto à biblioteca do escritório uma colecção de mochos, num móvel envidraçado. Contou-me a razão de ser desta colecção há poucos tempo: O'Neill oferecera-lhe um mocho para que a minha avó apre(e)ndesse a sua forma de ser, calado, taciturno, pensativo...

Alexandre O'Neill do que aparenta nas fotos é defacto parecido com um mocho, mas o que me leva a escrever não é nada disso... Um poeta espanhol um dia escreveu 'él camiño se hace camiñando', e a bicicleta surrealista de O'Neill nada é mais do que sinal desse propósito nobre do homem se libertar e se conhecer a si próprio. Há homens que admiro que conseguiram fazer da bicicleta de O'Neill símbolo de serenidade e compaixão humana.

Na verdade, ouço muitas vezes na minha cabeça pela voz de um homem que nunca conheci: "Deixem os mochos voar!". Dá-me alento nas horas frágeis de solidão precoce...

Sunday, November 02, 2008

...and that's how i met joe black ;)

Friday, October 10, 2008

é lendo as cartas de Daniel Fontanin a Jacques Thibault que me apercebo do enorme lugar comum, que nós humanos somos aos olhos dos livros:

"Tu felicitas-me pela minha seriedade. Isso é a minha miséria, bem ao contrário, é o meu destino maldito! Não sou como a abelha doidivanas que suga o mel de uma flor, depois de outra flor. Sou como o negro escaravelho que se encerra no seio de uma única rosa, e nela vive até que cerre as suas pétalas sobre ele e, sufocado nessa suprema carícia, morre entre os braços da flor que escolhera. (...)"

Obrigado avó :)

Monday, October 06, 2008

sair à noite sózinho: um refúgio da metrópole ou uma confissão da solidão precoce?

(engraçado querer escrever sobre isto...)

estaciona-se a 5 minutos a pé e galga-se pelos passeios já com gente a caminho do bairro mais alto da cidade. Se possível arranja-se lugar em frente ao grémio literário que, ou está fechado, ou prestes a falir, porque a literatura morta está ou de suícídio anunciado. Curioso é verificar que o poste de sinal azul ainda marca com a vistosa tabuleta: "Grémio Literário", entre lugares pagos até às 6 da manhã. (Optimistas!). Há gente de ambos os lados da estrada, dirigem-se em grupos. Vou de telemóvel na mão... teclando mensagens sem nexo, assemelha-se à minha escrita. gosto de as rever na selecção das por enviar, faço uma selecção das melhores mensalmente que guardo religiosamente num diário de bordo, junto do manual de instruções do telemóvel.

Dirijo-me à bica. Passo pelo amontoar de carros no camões e pelos multibancos, que a esta hora já exibem uma cruz vermelha de falta de liquidez. É das poucas ocasiões que me dá para a crise financeira, e muito fraternamente, se é que é possível este tipo de sentimento para com entidades bancárias, desculpabilizo mentalmente as caixas multibanco. Viro à esquerda e começo a descer rumo à Bica... (parece que há agora uma esquina na bica... que disparate: há esquinas em todo o lado!). encontro alguns noctívagos que conheço... e a pergunta cai: "então sózinho?". engulo o Álvaro de Campos (Já disse que não sou de companhia!), e assertivamente respondo: sim! vim sair sózinho hoje... fazer o percurso de sempre: bica... incógnito... e trampa! faz bem ao espírito! há risos nos seus olhares... mas como sei que também vão lá parar, tento convencer os presentes a fazerem o mesmo percurso... pouca ou nenhuma atenção consigo. despeço-me e fujo nos tragos das caipirinhas amargas... mais alguns amigos que já não vejo há algum tempo... e a mesma pergunta: " então sózinho?"... sim! já não fazia isto há uns tempos e estava a precisar! (humm és estranho!) humm obrigado!

segue-se para cima agora... vai-se ao purex pedir um gin tónico... e um imprevisto surge: o telemóvel toca. "sim estou por aqui... sim purex... ok eu espero por ti...até já". (quase a ficar sem bateria). ela aparece... a pergunta de sempre de novo... sim sim sózinho! falamos um pouco mas tem que ir porque apanha boleia. uma ida à casa de banho estratégica para ganhar folgo para próximas paragens e segue-se para o incógnito... a descida é íngreme e interessante: vão ficando menos pessoas e a luz transparece a solidão no passo rápido entre os faróis dos carros parados... é um bom nome de discoteca para estas noites. segue-se pois então. entra-se: 5 euros! (sim eu ainda pago pelos vistos!)... e outro imprevisto: encontra-se de novo os primeiros amigos da bica... sim sim sózinho! e repete-se... um gozo apaziguador de um rapaz de molas na cabeça que deve ter saído de casa antes de pendurar roupa e esqueceu-se... uma piada sobre o novo grupo de forcados do príncipe real a ser criado pr estes rapazes de lenços tradicionais ao pescoço... e mais uma caipirinha, não! antes um gin tónico, porque preciso de ser mais eloquente a partir das 3 da manhã... e a cachaça já nada me faz, segreda-me o neurónio consciente... depois de um inventário pormenorizado das intenções de final de noite dos presentes... consigo chegar ao consenso de arrastar o pessoal para a trampa! mission accomplished. viva a trampa... é lá que se arrasta o melhor da sociedade intelectual portuguesa... quais grémios! quais liberdades, igualdades e que mais! quais grandes obras e irmandades! é ali naquele lugar escuro que se movimentam as conspirações... (bem as conspirações não direi... mas as transpirações sim, que essas também são importantes!).

- estás a ficar maluco! tu estás senil!
- que disparate! estou a ficar é velho...

Thursday, September 25, 2008

o sono não vem... entretenho a razão com partidas de xadrez... o computador começa a ganhar várias vezes... jogo mal... ando a jogar mal... deve ser da idade... é mesmo capaz de ser da idade... desisto do xadrez... não se faz acompanhar de whiskey ou de uma bebida qualquer... jogar contra o computador torna-se entediante... ele é sempre tão calado! faz-se de parvo e ainda goza com o seu silêncio as minhas jogadas... desisto do xadrez... deve ser jogo de velhos!! e eu não tenho idade para isso... olha, idade de não ter idade! percorro telegraficamente as lombadas dos livros da estante... chama-se skim reading segreda-me a mente! que disparate! antes fosse ski reading sempre era mais divertido! ... és um atrasado mental! eu sei! ainda por cima nem diálogos sabes escrever e brincas com o texto!

- Preferes assim? é? ó clássico!
- Vês... não te custa nada!
- Mas deixa de ter piada... perde-se o meu tom 'Velho da Costa'...
- Só se for da costa de Caparica!
- Eh pá que piada de revista! cada vez tens menos de Brecht...
- Olha quem te viu e quem te vecht!
- Veste! Veste!

vês bem digo que nos safamos muito melhor assim... as lombadas dos livros não safam a vaga nocturna e és avariado de mais para te deixares ir apenas em duas personagens... artistas?! são espíritos doentes... gente que quer consumir o mundo como se fumasse ópio...

-ainda estão para descobrir os comprimidos!
-olha lá?! mas tu tás calado ou calaste?

surdo! já te disse que sou surdo!! este teu neurónio é apenas surdo... e rodeado de mudos tenho a sensação que ouço gestos sempre que fecho os olhos...

-ou ouves sons...
-mas é assim tão difícil estares calado?!

deixo-te com o teu silêncio então, ó jogador sem pano... hasta!

Friday, September 19, 2008

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Autopsicografia - Fernando Pessoa)

aguarda-se as críticas pois então... :)

Wednesday, August 20, 2008

e pois... não se consegue dormir...

escrever... escrever sobre o que não se diz mas se pensa... escrever sobre as coisas que a companhia intimida e que gostávamos de aprender a silenciar junto do coração dos que amamos...

pois... as feridas abrem-se... já me tinha esquecido que acontece... já me tinha esquecido que somos feitos de papel... sou um dos fracos de espírito que acredita que há alguma razão para gostarmos simplesmente de alguém e lutar de alguma forma por isso...

tento que a obsessão não me preencha e só me vêm pensamentos amargos e tristes... sinto-me meio culpado por não ter conseguido não ser frio... é revoltante termos de responder com o politicamente correcto e não gritar que se ama sem ter medo do peso da solidão...

é urgente que ouçamos isto: "nenhum de nós tem nada a provar ao outro, só o outro tem algo a fazer para melhor nos compreender".

não consigo dormir... sinto-me irrequieto, imaturo, ansioso, transtornado... tudo, por saber que não domino isto... continua tudo igual... passaram 80 dias e está tudo igual... é mau... é mesmo muito mau... sentir isto!

é! o tempo pára contigo... fico sem direcção sem saber para onde continuar ou seguir... fico sem saber que conversa encetar ou se é mesmo necessário conversa... fico meio perdido nos teus olhos sem me lembrar do início da frase... é! o marinheiro de primeira viagem em busca de búzios... e a mente não pára... a minha mente navega no que te move... se o soubesse... saberia como...

tenho medo que isto não acabe e tenho medo de algures pelo caminho as palavras tenham faltado... para explicar aquilo que o coração cobre e desnuda...

tenho saudades tuas... e tinha-me esquecido como era ter saudades tuas... oh Drummond aparece: "o melhor remédio para a saudade é a falta de memória!"... é bom não nos lembrarmos... mas assim que o fazemos... percebemos o tempo perdido, e aí amigo... aí só conheço uma solução é pôrmos caminho à estrada... seja isso a norte, seja isso para o outro lado do mundo! fugir dos que amamos, leva a um caminho: ser prisioneiro do passado... os fantasmas reaparecem... é preciso voltarmos à origem para compreender o destino...

Monday, August 04, 2008

in a tempting way out to introduce someone he never afford to know, small talk became the only coin he could change... sometimes he would just prefer hunting like a dark knight the timid and angelic boy smiling at him... he would never think it could be a one way feeling, never occurred to him rejection or no love at first sight... after all, it was just a waste of time! Tragically or not, it would not lead to anywhere...

sometimes, you got to stop dreaming and trust fiction to accomplish what you want... Oscar Wilde wouldn't book a seat if he knew how stupid and vulgar every conversation turn to :) (especially in english...)

Saturday, July 12, 2008

praxis aristotélica? queres saber? é o acto de te fechar num quarto e dar-te prazer... sinónimo vago de amor em noites quentes, escaldantes demais para as nossas mãos resistirem a torres de babel salivantes... mergulhe-se no odor desse possuir, o encostar ao colchão sem dono e fazer suar as tuas entranhas com línguas húmidas trabalhadoras... é isso! esse acto animal de possuir e dominar o teu corpo, os teus impulsos que nem cordas mentais com vibrações rasgadas de domínio e gemido... quero, quero... ah se quero!!!

Wednesday, July 02, 2008

"Boas noites? Como têm passado? É o costume?". Meros acenos simplistas rematam educadamente o silêncio da mesa. Deixou de se discutir o que quer que seja, nem crise dos combustíveis, nem alta velocidade, nem estado da saúde e educação... já nem os típicos incêndios do verão merecem comentário... O silêncio domina os nosso espíritos sempre que alguém, preparando-se para intervir, lembra aos restantes que já sabemos o que ele vai dizer a seguir... é esta lamentável angústia de conhecer os presentes demasiado bem para esperar mais do que os seus sempre redutores lugares comuns...
O vinho é branco e serve-se fresco... é sauvignon, não cabernet... alguém acrescenta "este é branco, é estupendo, é chileno..." pergunto-me se o estupendo e o chileno aparecem necessariamente juntos... salvador allende... talvez... o pinochet se calhar não... que pensamento parvo... ainda bem que me conservo calado pelo jantar... o gamberetti vem por fim e mergulho na massa de garfo afoito... murmura-se bom apetite para fingir que somos sociáveis...
(...)
o procópio continua um dos sítios mais curiosos para observar o pedantismo burguês, fala-se de copo discreto na mão e pipocas salgadas para folgar a sede... parecem rebuçados para a tosse, mas é uma tosse cultural, quase tísica... castradora... é aqui que as conversas dignas desse nome surgem, entre pedidos de isqueiro e olhares indiscretos aos entrantes... alguém lança o tema e discute-se o óbvio... passa amy winehouse... não uma música mas todo o disco... os cotas deixaram de ser alternativos, surgem apenas decadentes... já a boquilha de prata da senhora do canto faz lembrar uma jornalista de pluma caprichosa, aliás receio por instantes que seja ela... o ambiente torna-se demasiado soarista e perco-me da conversa... trocamos olhares... deveria dizer-lhe o que acho do artigo da manela, mas vou ficar sentado que o silêncio é a arma dos parvos...

Wednesday, June 11, 2008

Pudessem as minhas palavras escorrer em mel no teu paladar, pudessem elas ressoar como sinfonias distantes das harpas antigas aos teus doces ouvidos, pudesse o meu perfume encher-te de profundo desejo e cólera de existir...
Ó nobre amigo, há coisas em ti que me fariam galgar montanhas se para aí corresse Hades! Dar-te-ia o mundo se nele pudesse conter o que as minhas singelas palavras abarcam... Mergulharia nessa fossa sem hesitação nem oxigénio afoito, por mais uns segundos no teu leito, por mais um beijo molhado de respiração trôpega...
Pudesse eu escrever aqui o absurdo do que fiz e sentirias por fim o meu arrependimento e este tormento desumano, que me consome e corrói, da muralha que entre nós cobardemente ergui...
(desculpa)
- é urgente deixar de escrever...
- porque me procuras, Hamlet?

Saturday, June 07, 2008

egoísta?! sim! bastante - confessava com um sorriso no canto da boca e o olhar franzido. - gosto de livros. gosto das viagens que faço com eles. gosto de pegar num livro e seguir à aventura. é delicioso perceber que muito do que trago comigo são viagens, livros e pessoas... poucos quadros, mas bons...

cheiro as salas do Prado quando adormeço, não há dança do sono que me valha, não há ritual que me desconcentre de mim mesmo... é bom voltar a sentir as nossas costelas e os nossos gostos... vou acabar a Ilíada na viagem e arrumarei o assunto para sempre...

serei um rapaz diferente - segredou por fim. fechou os olhos. encostou a cabeça no peito de Páris e adormeceu no seu colo... em busca de si...

Thursday, June 05, 2008

há textos sublimes... cuja oralidade obrigam o leitor a nele permanecer durante vários dias... é uma viagem de apaziguamento de cólera que a humanidade aprendeu a conservar dos antigos...

"ninguém me lançará na morte contra a vontade do destino" - diz Heitor a Andrómaca... atrevo-me a escrever que também no amor, ninguém nos lançará contra essa vontade... talvez seja essa a certeza que me apazigua... é uma viagem emocional, a mesma de Aquiles...

preferível é errar, acreditando, do que acertar sempre mas por cálculo e por táctica - talvez o contexto não seja esse, mas sempre gostei de obrigar as palavras a assumir novos contornos noutro contexto que não o original.

(a feira do livro reserva-nos surpresas boas e más)

Tuesday, June 03, 2008

é uma idéia demasiado bela para me apropriar dela... mas faço-o porque pretendo experienciá-la perpetuamente... (apeteceu-me acentuar à sec XIX... perpétuamente... mas resisti)... é no fundo, a teoria do desespero de Schopenhauer e Kierkegaard... é esta triste constatação que a felicidade é apenas resultado de quando alguém momentaneamente nos pára a dor... a dor, essa sim, é permanente...
a culpa é da Vontade lá dizia o Variações... a mesma vontade que o Hegel prefere tratar de forma demasiado racional para parecer humano e mutável... e para Representações prefiro pensar que é o caminho natural da maldição de Adão transmitido à sua descendência... (que reconfortante sermos todos irmãos).
- "Só dizes disparates! Às vezes tenho dúvidas que alguém perceba o que queres dizer com isso, ou se tu próprio sabes o que queres dizer! Porra! São palavras e abusas delas!"
vá dormir!

Sunday, June 01, 2008

chegou-se ao ridículo da mensagem nocturna sufocante e sôfrega... ao ridículo de esperar junto ao degrau a jogar snake pelas 5 da manhã... ao ridículo de nem uma resposta se conseguir... ao ridículo de já não acertar nisto... ao ridículo de criar um fantasma e aprender a fugir dele e evitá-lo...

perguntas-te se por ti fizeste o que tinhas a fazer... e a resposta é um sim tímido que obriga-te a recompor-te por dentro... o meu convívio atingiu uma bipolaridade atroz, subtil aos olhos de conhecidos e demais evidente aos olhos de estranhos... não é Brecht, mas é parecido...

sei o caminho a seguir... já estive aqui... corta-se e segue-se como se não tivesse acontecido... é isso que mandam os livros... e deixa de se dar importância ao que possa vir daí... pois vamos a isso, campeão! :[

viva o dia da criança pois então!

(Sufjan Stevens - Chicago
às 5 da manhã é isto que o rádio passava)

Wednesday, May 28, 2008

(Cara feiosa emigrante londrina,

Obrigado pela sua última carta... gosto quando a correspondência me chega sempre a tempo de fazer alguma coisa: esperemos, para bem da humanidade, que seja este o caso...

Comecemos como é lógico pelo princípio: Sócrates, Platão, Aristóteles...
Ora bem, o primeiro nada deixou escrito... por isso recuso-me a comentar o que outros escreveram sobre o pensamento dele! Platão escreve a República... ah e tal crise social e intelectual em Atenas - adoro o conceito de crise intelectual... lol - uma sociedade ditada pelo poder de uma minoria esclarecida... chama-se elitismo! mas é a primeira vez que encontramos a referencia de republica! idealismo platonico: como arma de concepção: a cidade ideal / a cidade real / a cidade possivel... Aristoteles! Organizamo-nos economicamente para a finalidade do ser humano: reprodução! básico... viva Darwin... e nega-se a concepção histórica da humanidade, e nasce o princípio da contradição como motor da mudança... a essência está má, se as coisas vão mal; mude-se a essência se queremos que as coisas caminhem bem...

Era Romana... domínio pela paz... viva o Cristianismo! o novo testamento e santo agostinho! e não me venham com o início do comunismo aqui! :P

vem a idade média: era negra... delicioso o papel da Igreja Católica...

Mercantilismo no início do Renascimento: Tomás Moro e Tommaso Campanella! Ah e o Erasmus! Pronto e começa o início do pensamento capitalista, não será?

... acabo esta carta outro dia!! tou farto que falem do Marx como se fosse o único!

vá vai estudar!

Saudações académicas!

o teu eterno inimigo,

Toni das panças grandes)

Tuesday, May 27, 2008

é o shortbus exactamente... parece caber lá tudo de alguma maneira... alguém dá voz ao som de violinos: we all bear the scars, we all feign a laugh, we all cry in the dark and get cut off before we start...

... and as your last breath begins you find your demon's best friend...
... and there's a past stained with tears,
could you talk to quiet my fears?
could you pull me aside, just to acknowledge that i've tried?...

espalhei o que sinto aos 4 ventos para que de alguma forma deixasse de me pertencer.
e quis o vento trazer de volta as minhas lágrimas...
espalhei o que sinto pelas 7 marés para que os oceanos o afundassem nos seus fundos.
e quis a maré trazê-lo de volta a meus pés...
espalhei o que sinto pelas 11 montanhas para que a sua lava fundisse este aperto de coração.
e quis a montanha trazer-mo de volta em pedaços ao meu peito...
espalhei o que sinto pelos 13 desertos para que soterrassem o desejo que me sufoca.
e quis o deserto trazê-lo de volta coberto de areia perfumada com o seu cheiro...

espalho e volta ao meu corpo sem tréguas...

Sunday, May 25, 2008

John Berger escreveu "For nomads, home is not an address, home is what they carry with them." Nunca sentir-se em casa fez tanto sentido como sentirmo-nos bem com nós próprios.

Contudo, não é preciso ser nómada para isso.
O fugir do material, daquilo que nos liga ao real, pode sem dúvida facilitar a auto-análise catártica, tão necessária à paz de espírito e elevação individual.
O sedentarismo não pode nem deve representar um entrave à busca interior.

(é pois evidente como viajar nos obriga a pensar...)

Sunday, May 18, 2008

como assim: porsons.blogspot? pormusica.blogspot? sinceramente, não me parecia bem... é da letra, das palavras que gosto :) mas pronto fica mais uma...

Peter, Bjorn & John - Objects of my affection

...e às seis e meia da manhã, o crachá reapareceu, destroçado no chão da pista de dança, o che versão mickey despedia-se do seu disfarce e ressoava na sua mente, entre as orelhas grandes, o ilustre sentimento dos mortais... qual revolução?! qual conversão?! era ali... entre soluços díspares de hinos estranhos... e voltou a ser pendurado nas calças a precisar de lavagem...

Tuesday, May 13, 2008

é capaz de ser dos maiores hinos para os meus tímpanos... e também para certas bombas relógio :P

"Something filled up
my heart with nothing,
someone told me not to cry.

But now that I’m older,
my heart’s colder,
and I can see that it’s a lie.

Children wake up,
hold your mistake up,
before they turn the summer into dust.

If the children don’t grow up,
our bodies get bigger but our hearts get torn up.
We’re just a million little gods causing rain storms turning every good thing to rust.

I guess we’ll just have to adjust.

With my lighning bolts a glowing
I can see where I am going to be
when the reaper he reaches and touches my hand.

With my lighning bolts a glowing
I can see where I am going
With my lighnin’ bolts a glowing
I can see where I am go-going

You better look out below!"


(i guess we'll just have to adjust... you better look out below)

Friday, May 09, 2008

(Cara feiosa emigrante londrina,

ia-me enganando e endereçava isto a oxford por hábito ou falta dele...

enfim, só para que um ponto lhe seja claro na minha vida ou falta dela, seja mudita, seja schadenfreude, a verdade é que sou um tipo feliz e isso vale por si :P

às vezes acho que a sorte ou falta dela é sempre uma questão de perspectiva e de auto-conhecimento...

é verdade que repito o 'falta de' pela 3ª vez mas não é nem por falta de sentir falta, nem por falta de não o sentir... é por estar em evolução de ideias e só disso...

cumprimentos,

p.s. Espero que as bibliotecas se mantenham abertas por muito tempo... )

Wednesday, May 07, 2008

i shall not detain myself in the intricacies of my own life. i'd rather becoming addict to yours...

make sure you're not mumbling or whispering, just shout them loud! :P

Tuesday, May 06, 2008

era um quarto pequeno com duas janelas pouco soalheiras, dividido por cortinas de plástico azul claro, pouco discretas a quem entra e procura uma velha senhora, cozinheira de pastéis de bacalhau e de moamba... divaga nestes espaços a saudade da adolescência e da minha idade... deambula pelos corredores do hospital o nervoso do desaparecimento físico... põe-se à espreita nas aberturas de elevador, no cruzar de olhos com enfermeiros, médicos e demais... e sentimo-nos frágeis, impotentes e nem o cheiro de desinfectante etilizado nos mosaicos sujos acalma o soluçar dos nossos actos... peguei na garrafa e enchi um copo junto à bancada de apoio... silenciei-me por não conhecer as palavras certas... são seis os doentes desta camarata permanente, e a sala enche-se do silêncio dos visitantes que se entrecruzam... ouvimos os lamentos... "eles não dizem nada..."

fixei-me noutro ponto, numa árvore testemunha daqueles que por aqui descansaram e talvez daqui partiram... ela parece confortar o meu olhar num abraço de ramos jogados ao vento... vôo com a mente que nem pássaro primaveril para uma sombra física que me aqueça as asas...

e descanso quando fecho os olhos e adormeço...

Tuesday, April 29, 2008

"tem que se escrever..." - segreda-me o fantasma do outro lado do espelho...
o fantasma que não ri.
não aprendeu a rir.
a vida não lhe foi justa... não o ensinou...

tem que se escrever, escrever sobre o que desorienta, entristece, abarca, divide... anima e soluça nas horas mansas... alegra e cresce nos sorrisos francos ou apenas desperta nos olhares sem medo, com palavras que por falta de magia, nos fazem regressar ao terreno, ao inerte, ao banal, ao rotineiro e vulgar...

sim, e tem que se ler para se escrever...

Camilo Pessanha morde-me a alma quando me obriga a olhar para o cão agradecido...

"De sob o cômoro quadrangular
Da terra fresca que me há-de inumar,

E depois de já muito ter chovido,
Quando a erva alastrar com o olvido,

Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Há-de ir humilde, atravessando o mar,

Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido."

(Camilo Pessanha)

hoje apetece adormecer e acordar cão...

Monday, April 21, 2008

uma carta sem nexo:

(Cara feiosa emigrante londrina,

homens que acreditam que um homem a cavar um buraco e outro à frente a tapá-lo, aumenta o pib, são homens que não vale a pena amar... valerá a pena ler, enquanto ofegamos a mente com rebuçados de codaína, como quem lê o horóscopo ou enumera o sudoku...

deixa o Keynes - ele não te merece!

espero poder escrever que fizeste a mala, regressaste a lisboa e inscreveste-te em particulares com a manuela... e escusas de fingir... que ela agora vai andar ocupada pa primeira-ministra!

antes Malthus, antes tipos maus e brutos! às vezes ainda aplico o modelo logístico e lembro-me dele, dá-me vómitos! deixemo-nos de parvoíces!

escreve de volta!

o teu sempre estimado inimigo,

toni das panças grandes)

tenho que te escrever mais...

Sunday, April 20, 2008

mascava o tabaco sujo e mal enrolado, enquanto engomava entre bafos as camisas do doutor e as calças da senhora... manejava com a língua o vestígio de cigarro sem filtro que se acumulava na ponta e que exibia por segundos entre os lábios a cada vinco do ferro engulindo-o de novo. era uma mulata esforçada de vestes alegres e mamas grandes mas descaídas. a bunda indisfarçável na saia comprida enaltecia a fertilidade tribal de outros tempos...

fitei-a com a rigidez britânica de monóculo jovial próprio de outra futura idade enquanto abria o frigorífico delicadamente. agarrei uma das bananas e voltei ao quarto em busca de paz de espírito civilizacional...

viva Trotsky, vivam as bananas, viva a exploração!