em busca de mim

Monday, July 31, 2006

era naquela cidade com quotidiano de vila que escolhia passar o resto do tempo a partir dos trinta e cinco... achava-se esgotado, infértil e rejeitado... acreditou que fazia parte dos nove décimos que erguem a ponta do icebergue, e submergiu... submergiu porque tudo nele deixava de ser branco, puro e imaculado... submergiu porque a insatisfação dominava o poder da palavra... submergiu porque deixava agora de acreditar no "só morre quem pára"... e a pouco e pouco sentia-se parar...

pela única praça da cidade refugiada pelas muralhas, tomava os seus cafés sempre na mesma mesa, apenas acompanhado pelos livros dos outros... nunca guardou os seus... sabia que se o fizesse perder-se-ia no silêncio que habitava agora no seu espírito...

sonhou acordar... viu-se novo, de face sorridente... rompeu o adormecimento, a moleza e sacudiu o pó... sorriu sem reparar nisso e acordou com a certeza de que nessa hora, lisboa era a única morada para esperar que regressasse a si mesmo...

voltou a évora no verão seguinte com a certeza que mais do que parar, morreria ali...

Friday, July 28, 2006

tinha chegado ao fim a aventura... livre! não sabia bem do quê... mas estava livre! quando as olheiras venciam o cansaço, forçando a boa disposição em conversas sem nexo...

sentia-se ex-cruzado a quem tinham tirado religião ou razão de lutar, e sentava-se ausente de si mesmo no banco barulhento de centro comercial suburbano... procurava esvaziar-se e permaneceu na mesma pose tísica pela tarde dentro...

lembrou-se da tabacaria, dos versos que atormentam os que se sentem capazes... apeteceu-lhe chocolate, sentia a falta do chocolate... era apenas isto afinal: chocolate!

Tuesday, July 25, 2006

são conversas de aquário, como dois peixes laranja que algures na confusão troquei pelo próprio pai...

antes a lula e a baleia! sim e sentir a fraude a correr pelas veias... somos isso e só isso! que se calem os artistas e os eleitos! Ouçamos a voz dos julgados, das aves rasteiras, dos medíocres e dos humilhados! que ainda ouças o grito dos surdos, desses que inconsequentes caminham!

não me venham com "el camino se hace caminando", deixem-se de amores, rosas e tomilho! Faz-te dinamite e foge dos felizes... alcança os neuróticos, os dementes e os imorais! ultrapassa a ânsia de ser e renasce em marés negras! quais botes de remos de impressionistas de encomenda! quais girassóis! quais principezinhos! quais diários! deixa a bicicleta e desiste do caminho! Che Guevara de barba feita metes nojo!

Faz-te verde e maduro... faz-te homem soturno
e flutua pela madrugada imberbe!
Buscas o finito? O concreto? O palpável?

Grita agora às torres dos deuses:
"Da imortalidade renuncio!"

Que te encurtem o tormento!
Que te juntem à maralha,

e oxalá que do vento ressuscites vulgar, mesquinho e digno da escumalha a que pertences!

Monday, July 17, 2006

desci a rua focando o candeeiro fosco que alumiava a esquina... imaginei por instantes, de olhos esquecidos pelo chão, toques de lábios intermitentes no transpirar natural das noites quentes...
parecia que a noite fazia de nós crianças... e que infantil tentar paços de dança cativando os companheiros de noite!

sinto que certas palavras que arremesso, por mais que me libertem não passarão de vícios de marinheiro de primeiro viagem...
porque afinal o silêncio dignifica o horizonte quando em alto mar, o sol volta a querer brilhar...

Monday, July 03, 2006

talvez o que possa escrever resulte sem valor, mas custa-me deixar passar mal entendidos nos que amo, sem que exiba uma palavra a esse respeito...
é verdade que são os mais solitários que impõem muros mais resistentes aos outros... e é verdade que são os mais fracos que vêem neles soluções...

pergunto-me se o turista que é guiado por toda a cidade realmente conhece a cidade... (ah se o guia for bom?!) a verdade é que pouco me interessa que o turista conheça a visão do guia da cidade se nela não encontrar algo seu, algo com que se identifique, algo que o motive e que o entusiasme... e julgo que é mais fácil cruzar-se com isso sozinho... e sim, vale a pena voltar aos sítios e perceber o que deixámos escapar em diálogos esquecidos e parece que quero arrancar das paredes sussurros confiados na orelha um do outro...

às vezes parece-me ouvir aquele lamento vão de um velho pescador que se senta junto às rochas contemplando o mar: "se um dia soubesses quanto de ti trago comigo, chamar-me-ias ladrão de búzios"... ;)