em busca de mim

Tuesday, December 18, 2007

De Mario Lacruz fica o exemplo de moderação. É de facto espantoso como as páginas lançadas para arcas velhas podem ser remodeladas anos mais tarde da morte do autor e perfilarem como lombadas largas em bibliotecas contemporâneas. Faz lembrar Pessoa, faz lembrar que a provável deformação profissional de um editor exija do pousar da sua pena, a mesma delicadeza e estridência dos clássicos, subtraídos pelo cansaço do tempo, esquecidos no sótão do avô maçon ou da tia lésbica solteirona, vítima de morte precoce...

resta perder-me na essência da minha própria escrita e parafrasear Lacruz, "um amor contrariado pode ser a chave de toda uma existência".

Sunday, December 16, 2007

pareceu-me estar a mais e despedi-me rapidamente sem querer perceber o que passava pela cabeça dos presentes... estendi a mão e disse um tímido tchau... ouvi um até já, lançado meio sem nexo para o espanto dos presentes...

fez-me lembrar a história irritante, que a minha avó conta, do porteiro do bingo: sempre à saída, ele dirige-lhe um então até amanhã. a minha avó costuma rematar a história com um juro que um dia destes, ele leva com a mala na cabeça...

franzi a sobrancelha e virei costas com um sorriso, fingindo que não pensaria mais nisso... até já então! seja isso o que for...

Saturday, December 08, 2007

às cinco e pouco, descia a rua da trampa... gregoriava-se pelo passeio lateral à medida que descia, de braço estendido e mão encostada à parede... (tinha muito pouco de clássico, mas gregoriava-se continuamente e sem esforço). passou um carro e de faróis curiosos, alumiou por instantes a decadência que era só dele...

hoje rio-me disto tudo...

vivia rindo-se de si próprio.
com a certeza porém que o dia em que a comédia acabasse, a vida morria com ela!

Wednesday, December 05, 2007

the book started with a rough, but defining vision of himself:

"he was somewhere, he had come back through vast regions from nowhere; there was the certitude of an infinitive sadness at the core of his consciousness, but the sadness was reassuring, because it alone was familiar."

("The Sheltering Sky" by Paul Bowles)

he hasn't read Bowles yet. he felt home though. he felt waking up from a long shadowed dream. But most of all, he felt a travel, even if it would mean just reading. Living others' dreams, driving through unfeasible motorways of cloudy dreams. he felt arriving to himself, building small tents of unpredictable refuge, without realising he was the only lonely refugee there... a loner with himself, embracing soundless violins, unable to fiddle nomore, enraging deaf howls to disappearing moons...

no light for me. no light for us...

"i know, it doesn't silence anyone
so what could anyone say
there's been but two meanings in our lives:
what you want and what i can't hide"

(la rocca- goodnight)

goodnight... and good luck.