em busca de mim

Wednesday, June 11, 2008

Pudessem as minhas palavras escorrer em mel no teu paladar, pudessem elas ressoar como sinfonias distantes das harpas antigas aos teus doces ouvidos, pudesse o meu perfume encher-te de profundo desejo e cólera de existir...
Ó nobre amigo, há coisas em ti que me fariam galgar montanhas se para aí corresse Hades! Dar-te-ia o mundo se nele pudesse conter o que as minhas singelas palavras abarcam... Mergulharia nessa fossa sem hesitação nem oxigénio afoito, por mais uns segundos no teu leito, por mais um beijo molhado de respiração trôpega...
Pudesse eu escrever aqui o absurdo do que fiz e sentirias por fim o meu arrependimento e este tormento desumano, que me consome e corrói, da muralha que entre nós cobardemente ergui...
(desculpa)
- é urgente deixar de escrever...
- porque me procuras, Hamlet?

Saturday, June 07, 2008

egoísta?! sim! bastante - confessava com um sorriso no canto da boca e o olhar franzido. - gosto de livros. gosto das viagens que faço com eles. gosto de pegar num livro e seguir à aventura. é delicioso perceber que muito do que trago comigo são viagens, livros e pessoas... poucos quadros, mas bons...

cheiro as salas do Prado quando adormeço, não há dança do sono que me valha, não há ritual que me desconcentre de mim mesmo... é bom voltar a sentir as nossas costelas e os nossos gostos... vou acabar a Ilíada na viagem e arrumarei o assunto para sempre...

serei um rapaz diferente - segredou por fim. fechou os olhos. encostou a cabeça no peito de Páris e adormeceu no seu colo... em busca de si...

Thursday, June 05, 2008

há textos sublimes... cuja oralidade obrigam o leitor a nele permanecer durante vários dias... é uma viagem de apaziguamento de cólera que a humanidade aprendeu a conservar dos antigos...

"ninguém me lançará na morte contra a vontade do destino" - diz Heitor a Andrómaca... atrevo-me a escrever que também no amor, ninguém nos lançará contra essa vontade... talvez seja essa a certeza que me apazigua... é uma viagem emocional, a mesma de Aquiles...

preferível é errar, acreditando, do que acertar sempre mas por cálculo e por táctica - talvez o contexto não seja esse, mas sempre gostei de obrigar as palavras a assumir novos contornos noutro contexto que não o original.

(a feira do livro reserva-nos surpresas boas e más)

Tuesday, June 03, 2008

é uma idéia demasiado bela para me apropriar dela... mas faço-o porque pretendo experienciá-la perpetuamente... (apeteceu-me acentuar à sec XIX... perpétuamente... mas resisti)... é no fundo, a teoria do desespero de Schopenhauer e Kierkegaard... é esta triste constatação que a felicidade é apenas resultado de quando alguém momentaneamente nos pára a dor... a dor, essa sim, é permanente...
a culpa é da Vontade lá dizia o Variações... a mesma vontade que o Hegel prefere tratar de forma demasiado racional para parecer humano e mutável... e para Representações prefiro pensar que é o caminho natural da maldição de Adão transmitido à sua descendência... (que reconfortante sermos todos irmãos).
- "Só dizes disparates! Às vezes tenho dúvidas que alguém perceba o que queres dizer com isso, ou se tu próprio sabes o que queres dizer! Porra! São palavras e abusas delas!"
vá dormir!

Sunday, June 01, 2008

chegou-se ao ridículo da mensagem nocturna sufocante e sôfrega... ao ridículo de esperar junto ao degrau a jogar snake pelas 5 da manhã... ao ridículo de nem uma resposta se conseguir... ao ridículo de já não acertar nisto... ao ridículo de criar um fantasma e aprender a fugir dele e evitá-lo...

perguntas-te se por ti fizeste o que tinhas a fazer... e a resposta é um sim tímido que obriga-te a recompor-te por dentro... o meu convívio atingiu uma bipolaridade atroz, subtil aos olhos de conhecidos e demais evidente aos olhos de estranhos... não é Brecht, mas é parecido...

sei o caminho a seguir... já estive aqui... corta-se e segue-se como se não tivesse acontecido... é isso que mandam os livros... e deixa de se dar importância ao que possa vir daí... pois vamos a isso, campeão! :[

viva o dia da criança pois então!

(Sufjan Stevens - Chicago
às 5 da manhã é isto que o rádio passava)