em busca de mim

Wednesday, July 02, 2008

"Boas noites? Como têm passado? É o costume?". Meros acenos simplistas rematam educadamente o silêncio da mesa. Deixou de se discutir o que quer que seja, nem crise dos combustíveis, nem alta velocidade, nem estado da saúde e educação... já nem os típicos incêndios do verão merecem comentário... O silêncio domina os nosso espíritos sempre que alguém, preparando-se para intervir, lembra aos restantes que já sabemos o que ele vai dizer a seguir... é esta lamentável angústia de conhecer os presentes demasiado bem para esperar mais do que os seus sempre redutores lugares comuns...
O vinho é branco e serve-se fresco... é sauvignon, não cabernet... alguém acrescenta "este é branco, é estupendo, é chileno..." pergunto-me se o estupendo e o chileno aparecem necessariamente juntos... salvador allende... talvez... o pinochet se calhar não... que pensamento parvo... ainda bem que me conservo calado pelo jantar... o gamberetti vem por fim e mergulho na massa de garfo afoito... murmura-se bom apetite para fingir que somos sociáveis...
(...)
o procópio continua um dos sítios mais curiosos para observar o pedantismo burguês, fala-se de copo discreto na mão e pipocas salgadas para folgar a sede... parecem rebuçados para a tosse, mas é uma tosse cultural, quase tísica... castradora... é aqui que as conversas dignas desse nome surgem, entre pedidos de isqueiro e olhares indiscretos aos entrantes... alguém lança o tema e discute-se o óbvio... passa amy winehouse... não uma música mas todo o disco... os cotas deixaram de ser alternativos, surgem apenas decadentes... já a boquilha de prata da senhora do canto faz lembrar uma jornalista de pluma caprichosa, aliás receio por instantes que seja ela... o ambiente torna-se demasiado soarista e perco-me da conversa... trocamos olhares... deveria dizer-lhe o que acho do artigo da manela, mas vou ficar sentado que o silêncio é a arma dos parvos...

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